Bom, ja foi ha dois meses atras, mas nao posso deixar de registrar nossa primeira experiencia em um dos habitos preferidos dos canadenses no inverno: viajar para o Caribe. So para ter uma ideia, cerca de 80% (mostragem nao cientifica, apenas baseado no barulho em resposta “quem eh do Canada”, no teatro) dos hospedes eram canadenses, os outros 20% europeus (vi russo, alemao, espanhol, portugues e italiano). Americanos nao existem la e esse eh um diferencial para Cuba em relacao aos outros paises do Caribe. Se pensar que eh mais barato passar uma semana (ou mesmo mais tempo se quiser) em um resort com (quase) tudo pago do que so as passagens pro Brasil, fica muito dificil nao optar pelo Caribe. Esse ano como tinhamos pouco tempo e uma viagem rapida ao Brasil nao compensar, optamos por Cuba.
Escolhas
Canadenses lotam voos charter para ter um break do inverno, mesmo aqueles que amam o frio como eu, uma semaninha na praia cai muito bem. Os destinos mais visados – e mais em conta – sao Republica Dominicana, Cuba e Mexico. Os pacotes sao geralmente de uma semana, existem pacotes de 3 dias, mas voce vai pagar praticamente o mesmo preco do pacote de uma semana. Existem pacotes de 10 dias tambem. Como era nossa primeira experiencia no Caribe (ja fui a Isla Margarita mas no esquema mochileiro ha quase 15 anos atras), nao tinhamos a menor ideia quanto a que destino escolher, ja que os precos sao bem proximos, com Cuba tendendo a ser um pouco mais barato. Depois de umas duas semanas de pesquisas nos sites de pacotes turisticos (tripcentral, flight centre & red tag) e lendo reviews no Trip Advisor, escolhemos Cayo Santa Maria, em Cuba. Nosso unicos criterios eram que o hotel tivesse um “baby club” onde pudessemos deixar o Lucas eventualmente e que o hotel fosse pelo menos bonzinho, ja que eh pra gastar, que seja bem gasto. Gostamos da ideia de Cayo Santa Maria ser uma ilha isolada de Cuba (a cidade mais perto fica ha uma hora de carro) ligada por 48 kms de ponte, ja que queriamos so ser “regular tourists”, nao estavamos muito afim de explorar desta vez. Queriamos so sombra, mar e agua fresca (leia-se drinks variados).
O voo e a chegada
O voo foi direto Ottawa – Cuba. O aviao nao eh tao confortavel, mas pelo menos sao apenas 4 hs de voo. O clima a bordo ja eh de festa e demos sorte que boa parte do nosso voo levava convidados de uma festa de casamento e serviram ate champagne pro aviao inteiro. Como casamento formal eh um absurdo de dinheiro, muita gente aqui opta por pagar uma viagem dessas pros convidados e casar em grande estilo na praia. Descendo do aviao, enchemos o pulmao com aquele ar quente e umido tropical que tanto eh familiar a nos brasileiros, ainda mais acentuado pelo “cheiro de mato”. Depois de um “welcome to my country” na imigracao por volta de meia-noite, vamos pegar o onibus para o hotel e ainda tem ambulante vendendo agua e cerveja na porta do onibus, claro que nao da pra deixar passar o “una cerveza por favor”! O caminho ate o hotel eh permeado de nostalgia, por alguns momentos da ate pra pensar que estamos no interior do nordeste pelas cidadezinhas e vegetacao. Chegando para fazer o check-in, o hotel imponente da uma breve otima impressaom, mas os fumantes ascendem o cigarro e fumam como se nao houvesse amanha, provando que a educacao ficou no Canada. Enquanto esperamos tambem aparece um pessoal na recepcao na casa dos early 20’s pedindo uma cadeira de roda (sem sucesso) para um dos amigos que nao conseguia ficar em pe e era arrastado. Falei que bebida alcolica tambem eh “all you can drink” ?
O pacote
Geralmente pacotes all-inclusive oferecem cafe/almoco/jantar buffet mais duas opcoes de jantar a la carte mais “chiquezinho”. Como mencionei ha pouco, cerveja e drinks variados a vontade estao tambem inclusos e frigobar abastecido de agua, cerveja e refrigerante diariamente. Nos pegamos um pacote VIP da Air Transat num desses “last minute deals”, entao pagamos o preco normal pelo tal pacote. Se for pra pagar mais caro por isso acho que nao vale a pena, o VIP dava direito a tres jantares a la carte (consegui um quarto jantar de cortesia), opcao de cafe da manha no setor VIP, roupao (que nunca saiu do closet), toalha de praia (alem das toalhas do quarto), quarto mais perto da praia e um Rum. Teoricamente era pra ter um check-in exclusivo tambem, mas isso nao existiu para nos. No primeiro dia as 9h da manha tivemos uma “palestra” com um representante da Air Transat no auditorio, que explica tudo pros newbies como nos e tira duvidas que restarem. O nosso – chamado Raul – tinha um ingles muito bom e ainda arriscou algumas piadas de quando conheceu o Canada. Sempre tem algum representante da agencia de viagens no lobby do hotel no periodo de 9h ate 17h pra tirar eventuais duvidas que surgem.
A comida
Tema recorrente nos reviews, sempre via a frase “voce nao vai a Cuba pela comida”, entao nao tinha grandes expectativas. Isso foi bom, porque realmente alguns pratos no buffet eram bem ruizinhos mesmo, mas sempre dava pra encontrar comida boa, mesmo se nao quisesse enfrentar as filas pra estacoes sempre populares de comida feita na hora. Nessas estacoes eram feitos desde camaroes, carne e frango no grill, ate stir-fry e crepes. Mas acredito que boa parte do pessoal que reclama da comida, ou melhor canadenses, acham muito exotico e tal. Canadenses geralmente passavem com pratos cheios de batata frita ate a tampa, ou entao pizza e pao. Tinha ate fila esperando batata frita, que sem exagero algum, acabava em menos de 5 minutos e estava constantemente em falta. Portanto para nossos padarao brasileiro a comida era relativamente boa, quase me acabei de comer um arroz com mariscos que os canadenses nem tocavam torcendo o nariz para os pedacos macicos de marisco dentro do arroz. Ja sobremesa era muito fraca, uns bolinhos sem graca e algumas frutas (goiaba, laranja, mamao, etc), poucas para um pais tropical. O que salvava era o sorvetinho (meio derretido e aguado) e os crepes. Eh importante citar que para os padroes cubanos o que tinhamos todo dia era um banquete de reis. Para quem nao sabe a populacao ainda tem tudo racionado ate hoje, ate mesmo coisas basicas como leite.
O hotel
O hotel era um dos maiores da ilha com 1300 quartos divididos em algumas villas de 3 andares. Dividido em dois setores quase identicos, a ala beach e a colonial, cada setor contava com uma piscina enorme com bar molhado e um resto/grill. No meio do hotel ficavam os restos a la carte (so pra dinner) e os dois buffets. Na marina do hotel tinha disponivel pedalinhos pra 4 pessoas, caiaques e hobby cats de graca (limitados teoricamente a 2 horas por dia). Um grande auditorio onde todo dia a partir das 20h tinha o “kid’s disco” que o Lucas adorou, era basicamente um animado infantil fazendo brincadeiras por 45 minutos. Depois comecavam os shows de danca e as vezes musica ao vivo com aquelas bandas no estilo do Buena Vista Social Club. O Kid’s Club so usamos por duas horinhas, ja na vespera de irmos embora quando estavamos exaustos de correr atras do Lucas. A mulher que ficou responsavel por ele era a mesma que fazia os shows com as criancas (uma especie de xuxa) algumas vezes e era bem legal e parecia confiavel, mas outras funcionarias nao inspiravam muita confianca, por isso so deixamos ele la essa unica vez. Tinha disponivel servico de babysitter tambem, o qual usamos com muito peso na consciencia uma vez so pra jantar tranquilamente. O servico era apenas $5 dolares a hora, uma pechincha! Resumindo, gostamos do hotel em si, mas nao do servico. porem a culpa nao eh dos funcionarios em sua grande maioria simpaticos, mas da gerencia. Sempre parece ter menos funcionarios do que eles realmente precisariam, alguns funcionarios relataram pra gente que trabalham shifts de 12 horas.
A praia
Como da pra ver nas fotos, o mar parecia uma piscina quando estava sem muito vento. A areia era tao fina que parecia talco! Estavamos acostumados com nossa areia mais grossa nas praias nordestinas. Provavelmente a fina areia branca eh um dos motivos da agua ser tao transparente. As praias sao de uso exclusivo dos hospedes dos hoteis, ja que nao existem cidades por perto. Era facil identificar quem era canadense e quem era europeu pelos bikinis. Canadenses com bikinis maior que minhas cuecas e europeias com fio-dental ou um ou outro top-less. Tomamos um susto com o Lucas um dia, estavamos ao lado de uma mulher bronzeando de top-less quando o Lucas correu em direcao a ela achavamos que ele iria pedir um gole, mas ele so puxou conversa mesmo, isso depois de ter jogado areia na barriga marido da tal mulher (que levou na esportiva). Nudismo eh permitido tambem em algumas praias especificas, mas top-less pelo que entendi ate na piscina do hotel.
Atividades e gastos extras
Varios pacotes de excursoes e passeios desde cidades proximas ate Havana era oferecidos por grana extra. Ficamos tentandos por um passeio de Catamaran que era o dia inteiro com parada na baia (ou coral) dos golfinhos e direito a lagosta no almoco por $100, mas nao sabiamos como Mr. Luc se comportaria e achamos melhor deixar pra proxima. Uma caminhada de 10 minutos nos levava ao Pueblo Estrella, uma cidade cenografica feita para os turistas com um banco, correio, boliche, disco (onde acontecia a balada de noite), lojinhas de presente e varios restaurantes. Experimentamos a pizza de lagosta ($5 dolores) no jantar no unico dia que nao tinhamos dinner a la carte scheduled e gostamos tanto que ate voltamos no dia de ir embora pra almocar, ja meio cansados do buffet.
Gorjetas sempre deixavamos pra camareira e pro rapaz que abastecia o frigobar. Nos restaurantes pro pessoal que servia as vezes, quando gostavamos do servico e/ou quando era alguem que no servia regularmente. Seguindo a dica de que coisas simples como pasta de dente e sabonete sao itens em falta na ilha, algumas vezes deixamos “presentinhos” como gorjeta e outras vezes deixamos adicionalmente.
Os hospedes, criancas e afinidades.
Pensei que seria mais wild do que foi, ainda mais depois da “recepcao” logo no lobby de entrada que relatei acima. Acho que se fosse no Brasil, com bebida a vontade o hotel nao passaria da primeira noite, provavelmente seria burned to the ground! O que notamos era que tinha bem mais familias que singles procurando balada. O fato do hotel (ou hoteis) serem isolados de centros urbanos ajuda bastante, os “baladeiros” procuram Havana ou Varadero. Fora as irmas enfermeiras de Winnipeg, pais com criancas tendem a se aproximar de outros pais com criancas, ou na verdade as criancas resolvem isso. Nos tornamos regulares na praia com um casal de Mississauga que tinha dois filhos, um deles da idade do Lucas. Outros dois casais com filhos tambem tivemos mais contato, um de Montreal (tambem imigrantes de origem Albanesa) e outros Quebecois de Quebec City. Esses ultimos foi bem curioso, conversei por algumas horas com o cara (que estava com um bebe de poucas semanas) e no final ele agradeceu por ter oportunidade de praticar o ingles! Quem diria um canadense (ok, quebecois) agradecendo um brasileiro pela oportunidade de praticar ingles?! E olha que ele eh advogado e trabalha pro governo provincial… O fato do frances ser mais proximo do portugues ajudou entende-lo quando nao sabia a palavra em ingles e tambem a paciencia, que nem todo mundo deve ter.
O povo cubano
O povo cubano me lembra muito o brasileiro. Mesmo com todas as dificuldades nao perdem o sorriso na cara. Como o pais sofre o embrago emposto pelos americanos ate hoje, eles sofrem com o bloqueio comercial com o resto do mundo. Importados sao em grande parte da China (TV do quarto, frigobar, chocolate) e algumas coisas do Brasil (muito bauducco), mas eles tem acesso bem limitado a tudo. Duas irmas enfermeiras canadenses de origem alema que fizemos amizades nos relataram que era a sexta vez em Cuba, mas a primeira a lazer, ela vinha todo ano como voluntaria de uma ONG. Ela me explicou muito de como as coisas funcionam la e de como o regime ainda eh forte. Trabalhar em hoteis para eles ainda eh uma das melhores atividades, melhor ate mesmo que ser medico ou advogado, ja que as gorjetas de um mes podem chegar a mais do que eles recebem de salario o ano inteiro, na faixa de 20 dolares o mes. So pra dar uma ideia, no dia que iriamos embora pegamos uma carona em um daqueles carrinhos de golf que circulam levando turistas e malas pelo hotel – que eh bem grande – e o Osmani (que ja tinha feito amizade) perguntou se nao tinhamos uma fraldas pra vende-lo, dizendo que em Cuba, mesmo se tivesse dinheiro, ele so tinha acesso a fraldas caras e com absorcao de apenas 2 horas. Fizemos entao um apanhado de todas as fraldas que nao usariamos mais ate chegar em casa, inlcuindo as de banho e outras coisas que tinhamos levado pra dar e ainda restavam como pasta e escova de dente, chocolate e ate coisas que nao queriamos como bijouterias da Claudia, perfumes e etc e juntamos uma sacola inteira que entregamos e ele correu pra fazer outra corrida. Quando ja estavamos esperando o onibus para ir de volta ao aeroporto ele voltou para agradecer, abracou, pegou o Lucas nos bracos pra passear e – como brasileiro – ate ofereceu pra ficar na casa dele da proxima vez de tao feliz que estava com as coisas que demos. Isso tudo me fez decidir que vou continuar indo a Cuba por um bom tempo, levar meu pouco dinheirinho a quem precisa. Se posso escolher aproveitar as ferias e ao mesmo tempo ajudar, melhor assim.
Balanco
Adoramos Cuba mesmo com os pequenos problemas e agora o Brasil tera um forte concorrente na escolha das ferias. Assim que der – se nao ano que vem, em 2015 – pretendemos voltar para pelo menos outra semana. Deveremos escolher a mesma regiao, mas provavelmente um novo, para pelo menos ter um referencial de comparacao.
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