Cuba

Bom, ja foi ha dois meses atras, mas nao posso deixar de registrar nossa primeira experiencia em um dos habitos preferidos dos canadenses no inverno: viajar para o Caribe. So para ter uma ideia, cerca de 80% (mostragem nao cientifica, apenas baseado no barulho em resposta “quem eh do Canada”, no teatro) dos hospedes eram canadenses, os outros 20% europeus (vi russo, alemao, espanhol, portugues e italiano). Americanos nao existem la e esse eh um diferencial para Cuba em relacao aos outros paises do Caribe.  Se pensar que eh mais barato passar uma semana (ou mesmo mais tempo se quiser) em um resort com (quase) tudo pago do que so as passagens pro Brasil, fica muito dificil nao optar pelo Caribe. Esse ano como tinhamos pouco tempo e uma viagem rapida ao Brasil nao compensar, optamos por Cuba.

Drinks pra toda a familia

Drinks pra toda a familia

Escolhas

Canadenses lotam voos charter para ter um break do inverno, mesmo aqueles que amam o frio como eu, uma semaninha na praia cai muito bem. Os destinos mais visados – e mais em conta –  sao Republica Dominicana, Cuba e Mexico. Os pacotes sao geralmente de uma semana, existem pacotes de 3 dias, mas voce vai pagar praticamente o mesmo preco do pacote de uma semana. Existem pacotes de 10 dias tambem. Como era nossa primeira experiencia no Caribe (ja fui a Isla Margarita mas no esquema mochileiro ha quase 15 anos atras), nao tinhamos a menor ideia quanto a que destino escolher, ja que os precos sao bem proximos, com Cuba tendendo a ser um pouco mais barato. Depois de umas duas semanas de pesquisas nos sites de pacotes turisticos (tripcentral, flight centre & red tag) e lendo reviews no Trip Advisor, escolhemos Cayo Santa Maria, em Cuba. Nosso unicos criterios eram que o hotel tivesse um “baby club” onde pudessemos deixar o Lucas eventualmente e que o hotel fosse pelo menos bonzinho, ja que eh pra gastar, que seja bem gasto. Gostamos da ideia de Cayo Santa Maria ser uma ilha isolada de Cuba (a cidade mais perto fica ha uma hora de carro) ligada por 48 kms de ponte, ja que queriamos so ser “regular tourists”, nao estavamos muito afim de explorar desta vez. Queriamos so sombra, mar e agua fresca (leia-se drinks variados).

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Vida dura

O voo e a chegada

O voo foi direto Ottawa – Cuba. O aviao nao eh tao confortavel, mas pelo menos sao apenas 4 hs de voo. O clima a bordo ja eh de festa e demos sorte que boa parte do nosso voo levava convidados de uma festa de casamento e serviram ate champagne pro aviao inteiro. Como casamento formal eh um absurdo de dinheiro, muita gente aqui opta por pagar uma viagem dessas pros convidados e casar em grande estilo na praia. Descendo do aviao, enchemos o pulmao com aquele ar quente e umido tropical que tanto eh familiar a nos brasileiros, ainda mais acentuado pelo “cheiro de mato”. Depois de um “welcome to my country” na imigracao por volta de meia-noite, vamos pegar o onibus para o hotel e ainda tem ambulante vendendo agua e cerveja na porta do onibus, claro que nao da pra deixar passar o “una cerveza por favor”! O caminho ate o hotel eh permeado de nostalgia, por alguns momentos da ate pra pensar que estamos no interior do nordeste pelas cidadezinhas e vegetacao. Chegando para fazer o check-in, o hotel imponente da uma breve otima impressaom, mas os fumantes ascendem o cigarro e fumam como se nao houvesse amanha,  provando que a educacao ficou no Canada. Enquanto esperamos tambem aparece um pessoal na recepcao na casa dos early 20’s pedindo uma cadeira de roda (sem sucesso) para um dos amigos que nao conseguia ficar em pe e era arrastado. Falei que bebida alcolica tambem eh “all you can drink” ?

Fun!

Fun!

O pacote

Geralmente pacotes all-inclusive oferecem cafe/almoco/jantar buffet mais duas opcoes de jantar a la carte mais “chiquezinho”. Como mencionei ha pouco, cerveja e drinks variados a vontade estao tambem inclusos e frigobar abastecido de agua, cerveja e refrigerante diariamente. Nos pegamos um pacote VIP da Air Transat num desses “last minute deals”, entao pagamos o preco normal pelo tal pacote. Se for pra pagar mais caro por isso acho que nao vale a pena, o VIP dava direito a tres jantares a la carte (consegui um quarto jantar de cortesia), opcao de cafe da manha no setor VIP, roupao (que nunca saiu do closet), toalha de praia (alem das toalhas do quarto), quarto mais perto da praia e um Rum. Teoricamente era pra ter um check-in exclusivo tambem, mas isso nao existiu para nos.  No primeiro dia as 9h da manha tivemos uma “palestra” com um representante da Air Transat no auditorio, que explica tudo pros newbies como nos e tira duvidas que restarem. O nosso – chamado Raul – tinha um ingles muito bom e ainda arriscou algumas piadas de quando conheceu o Canada. Sempre tem algum representante da agencia de viagens no lobby do hotel no periodo de 9h ate 17h pra tirar eventuais duvidas que surgem.

Neve?

A comida

Tema recorrente nos reviews, sempre via a frase “voce nao vai a Cuba pela comida”, entao nao tinha grandes expectativas. Isso foi bom, porque realmente alguns pratos no buffet eram bem ruizinhos mesmo, mas sempre dava pra encontrar comida boa, mesmo se nao quisesse enfrentar as filas pra estacoes sempre populares de comida feita na hora. Nessas estacoes eram feitos desde camaroes, carne e frango no grill, ate stir-fry e crepes. Mas acredito que boa parte do pessoal que reclama da comida, ou melhor canadenses, acham muito exotico e tal. Canadenses geralmente passavem com pratos cheios de batata frita ate a tampa, ou entao pizza e pao. Tinha ate fila esperando batata frita, que sem exagero algum, acabava em menos de 5 minutos e estava constantemente em falta. Portanto para nossos padarao brasileiro a comida era relativamente boa, quase me acabei de comer um arroz com mariscos que os canadenses nem tocavam torcendo o nariz para os pedacos macicos de marisco dentro do arroz. Ja sobremesa era muito fraca, uns bolinhos sem graca e algumas frutas (goiaba, laranja, mamao, etc), poucas para um pais tropical. O que salvava era o sorvetinho (meio derretido e aguado) e os crepes. Eh importante citar que para os padroes cubanos o que tinhamos todo dia era um banquete de reis. Para quem nao sabe a populacao ainda tem tudo racionado ate hoje, ate mesmo coisas basicas como leite.

Auditorio

Auditorio

O hotel

O hotel era um dos maiores da ilha com 1300 quartos divididos em algumas villas de 3 andares. Dividido em dois setores quase identicos, a ala beach e a colonial, cada setor contava com uma piscina enorme com bar molhado e um resto/grill. No meio do hotel ficavam os restos a la carte (so pra dinner) e os dois buffets. Na marina do hotel tinha disponivel pedalinhos pra 4 pessoas, caiaques e hobby cats de graca (limitados teoricamente a 2 horas por dia). Um grande auditorio onde todo dia a partir das 20h tinha o “kid’s disco” que o Lucas adorou, era basicamente um animado infantil fazendo brincadeiras por 45 minutos. Depois comecavam os shows de danca e as vezes musica ao vivo com aquelas bandas no estilo do Buena Vista Social Club. O Kid’s Club so usamos por duas horinhas, ja na vespera de irmos embora quando estavamos exaustos de correr atras do Lucas. A mulher que ficou responsavel por ele era a mesma que fazia os shows com as criancas (uma especie de xuxa) algumas vezes e era bem legal e parecia confiavel, mas outras funcionarias nao inspiravam muita confianca, por isso so deixamos ele la essa unica vez. Tinha disponivel servico de babysitter tambem, o qual usamos com muito peso na consciencia uma vez so pra jantar tranquilamente. O servico era apenas $5 dolares a hora, uma pechincha! Resumindo, gostamos do hotel em si, mas nao do servico. porem a culpa nao eh dos funcionarios em sua grande maioria simpaticos, mas da gerencia. Sempre parece ter menos funcionarios do que eles realmente precisariam, alguns funcionarios relataram pra gente que trabalham shifts de 12 horas.

Esculturas de toalhas quase todos os dias

Esculturas de toalhas quase todos os dias

A praia

Como da pra ver nas fotos, o mar parecia uma piscina quando estava sem muito vento. A areia era tao fina que parecia talco! Estavamos acostumados com nossa areia mais grossa nas praias nordestinas. Provavelmente a fina areia branca eh um dos motivos da agua ser tao transparente. As praias sao de uso exclusivo dos hospedes dos hoteis, ja que nao existem cidades por perto. Era facil identificar quem era canadense e quem era europeu pelos bikinis. Canadenses com bikinis maior que minhas cuecas e europeias com fio-dental ou um ou outro top-less. Tomamos um susto com o Lucas um dia, estavamos ao lado de uma mulher bronzeando de top-less quando o Lucas correu em direcao a ela achavamos que ele iria pedir um gole, mas ele so puxou conversa mesmo, isso depois de ter jogado areia na barriga marido da tal mulher (que levou na esportiva). Nudismo eh permitido tambem em algumas praias especificas, mas top-less pelo que entendi ate na piscina do hotel.

Mar parece uma piscina

Mar parece uma piscina

Atividades e gastos extras

Varios pacotes de excursoes e passeios desde cidades proximas ate Havana era oferecidos por grana extra. Ficamos tentandos por um passeio de Catamaran que era o dia inteiro com parada na baia (ou coral) dos golfinhos e direito a lagosta no almoco por $100, mas nao sabiamos como Mr. Luc se comportaria e achamos melhor deixar pra proxima. Uma caminhada de 10 minutos nos levava ao Pueblo Estrella, uma cidade cenografica feita para os turistas com um banco, correio, boliche, disco (onde acontecia a balada de noite), lojinhas de presente e varios restaurantes. Experimentamos a pizza de lagosta ($5 dolores) no jantar no unico dia que nao tinhamos dinner a la carte scheduled e gostamos tanto que ate voltamos no dia de ir embora pra almocar, ja meio cansados do buffet.

Gorjetas sempre deixavamos pra camareira e pro rapaz que abastecia o frigobar. Nos restaurantes pro pessoal que servia as vezes, quando gostavamos do servico e/ou quando era alguem que no servia regularmente.  Seguindo a dica de que coisas simples como pasta de dente e sabonete sao itens em falta na ilha, algumas vezes deixamos “presentinhos” como gorjeta e outras vezes deixamos adicionalmente.

Kid's Disco

Kid’s Disco

Os hospedes, criancas e afinidades.

Pensei que seria mais wild do que foi, ainda mais depois da “recepcao” logo no lobby de entrada que relatei acima. Acho que se fosse no Brasil, com bebida a vontade o hotel nao passaria da primeira noite, provavelmente seria burned to the ground! O que notamos era que tinha bem mais familias que singles procurando balada. O fato do hotel (ou hoteis) serem isolados de centros urbanos ajuda bastante, os “baladeiros” procuram Havana ou Varadero. Fora as irmas enfermeiras de Winnipeg, pais com criancas tendem a se aproximar de outros pais com criancas, ou na verdade as criancas resolvem isso. Nos tornamos regulares na praia com um casal de Mississauga que tinha dois filhos, um deles da idade do Lucas. Outros dois casais com filhos tambem tivemos mais contato, um de Montreal (tambem imigrantes de origem Albanesa) e outros Quebecois de Quebec City. Esses ultimos foi bem curioso, conversei por algumas horas com o cara (que estava com um bebe de poucas semanas) e no final ele agradeceu por ter oportunidade de praticar o ingles! Quem diria um canadense (ok, quebecois) agradecendo um brasileiro pela oportunidade de praticar ingles?! E olha que ele eh advogado e trabalha pro governo provincial… O fato do frances ser mais proximo do portugues ajudou entende-lo quando nao sabia a palavra em ingles e tambem a paciencia, que nem todo mundo deve ter.

Nosso incansavel baladeiro tentando fugir

Nosso incansavel baladeiro tentando fugir

O povo cubano

O povo cubano me lembra muito o brasileiro. Mesmo com todas as dificuldades nao perdem o sorriso na cara. Como o pais sofre o embrago emposto pelos americanos ate hoje, eles sofrem com o bloqueio comercial com o resto do mundo. Importados sao em grande parte da China (TV do quarto, frigobar, chocolate) e algumas coisas do Brasil (muito bauducco), mas eles tem acesso bem limitado a tudo. Duas irmas enfermeiras canadenses de origem alema que fizemos amizades nos relataram que era a sexta vez em Cuba, mas a primeira a lazer, ela vinha todo ano como voluntaria de uma ONG. Ela me explicou muito de como as coisas funcionam la e de como o regime ainda eh forte. Trabalhar em hoteis para eles ainda eh uma das melhores atividades, melhor ate mesmo que ser medico ou advogado, ja que as gorjetas de um mes podem chegar a mais  do que eles recebem de salario o ano inteiro, na faixa de 20 dolares o mes. So pra dar uma ideia, no dia que iriamos embora pegamos uma carona em um daqueles carrinhos de golf que circulam levando turistas e malas pelo hotel – que eh bem grande – e o Osmani (que ja tinha feito amizade) perguntou se nao tinhamos uma fraldas pra vende-lo, dizendo que em Cuba, mesmo se tivesse dinheiro, ele so tinha acesso a fraldas caras e com absorcao de apenas 2 horas.  Fizemos entao um apanhado de todas as fraldas que nao usariamos mais ate chegar em casa, inlcuindo as de banho e outras coisas que tinhamos levado pra dar e ainda restavam como pasta e escova de dente, chocolate e ate coisas que nao queriamos como bijouterias da Claudia, perfumes e etc e juntamos uma sacola inteira que entregamos e ele correu pra fazer outra corrida. Quando ja estavamos esperando o onibus para ir de volta ao aeroporto ele voltou para agradecer, abracou, pegou o Lucas nos bracos pra passear e – como brasileiro – ate ofereceu pra ficar na casa dele da proxima vez de tao feliz que estava com as coisas que demos. Isso tudo me fez decidir que vou continuar indo a Cuba por um bom tempo, levar meu pouco dinheirinho a quem precisa. Se posso escolher aproveitar as ferias e ao mesmo tempo ajudar, melhor assim.

Pueblo Estrella

Pueblo Estrella

Balanco

Adoramos Cuba mesmo com os pequenos problemas e agora o Brasil tera um forte concorrente na escolha das ferias. Assim que der – se nao ano que vem, em 2015 – pretendemos voltar para pelo menos outra semana. Deveremos escolher a mesma regiao, mas provavelmente um novo, para pelo menos ter um referencial de comparacao.

Ferias duplas no Brasil

Lembro que quando estávamos no processo de imigração ainda no Brasil, nos encontros que participávamos certo dia um dos colegas falou o seguinte: ” Depois que você imigrar, esteja preparado para voltar ao Brasil umas 7 vezes na sua vida. Sempre vão aparecer outras prioridades na sua vida, outras viagens, impedimentos… Então considerando que seus pais, ou família, vão visitar vocês mais ou menos o mesmo numero de vezes, depois que imigrar você só vai ver família no maximo 15 vezes durante sua vida.” Eu não sei quantas pessoas desistiram de imigrar depois dessa declaração, pelo menos dos mais próximos que tinha contato ninguém desistiu, mas na hora ele fez ate pessoas chorarem (serio)…hehehe

Vista do apartamento

Então, se isso for verdade, só tenho mais 4 idas ao Brasil de sobra, já que em dois anos e meio aqui já voltei 3 vezes.  Sim, o que ele falou tem um fundo de verdade, não é uma viagem curta ou barata para se fazer todo ano, mas não se pode generalizar. Depende de onde você mora no Canadá (quanto mais longe mais caro e complicado – ponto para Toronto aqui), situação financeira, ferias no trabalho e claro, da sua vontade.

Mas agora sobre minhas idas ao Brasil. A primeira foi programada, viajamos 14 de Dezembro para apresentar little Lucas para a família e amigos, só minha mãe e alguns tios já tinham vindo brevemente logo depois que ele nasceu. O plano era eu ficar ate 2 de janeiro e Claudia & Lucas ficarem ate fim de fevereiro aproveitando a licença maternidade dela. Depois que voltei ja estava perto de perder (o resto) minha sanidade, sabia que seria difícil passar 2 meses sozinho, mas não esperava que fosse tanto. O desespero foi tanto que estava disposto a voltar mesmo que fosse por um fim de semana para vê-los, mas falei com meu chefe para ver o que dava. Tive a cara de pau (segundo me disseram aqui no trabalho eu tive foi balls mesmo) de depois de 2 semanas da volta dos 20 dias no Brasil falar com meu chefe sobe a possibilidade de  dar um pulinho la novamente.  Falei a verdade, eu preciso voltar nem que seja por uma semana porque não estou aguentando a distancia. Ele claro não gostou da ideia e deu um pulo, mas de doido só tenho a cara e fiz uma proposta de trabalhar overtime para compensar. Na semana seguinte estava no avião da Air Canada novamente, dessa vez fazendo surpresa, avisei so pro sogro, que inventou uma desculpa esfarrapada pra ir no aeroporto levando Claudia e Lucas. A sogra foi levando Lucas para no susto não ter perigo da Claudia soltar o Lucas. Ao me ver a primeira pergunta foi se eu tinha perdido o emprego…hehehe

Batismo

Brasil é um ótimo lugar para se visitar. Sempre é bom ver parentes, amigos e só passear e comer comida boa.  Quando se sabe que esta la só de passagem, enfrentar a parte ruim fica bem mais fácil.

Lucas having fun!

A logística da coisa pode complicar um pouco ao passarmos ao posto de turistas. Onde ficar e como se locomover sao os maiores problemas. Ficar na casa de parentes e/ou amigos por muito tempo não rola. Mesmo na casa dos pais depois de adulto, principalmente se você é casado, pode ser complicado se por um periodo mais extenso. Tivemos sorte de conseguir um apartamento cedido por um parente para ficarmos o período inteiro da nossa estadia enquanto eu estava por la. Isso evita também ter que escolher uma casa especifica – geralmente os pais de um ou de outro –  e gerar ciúmes e conflito pela escolha. Outro problema é o carro. Pensei em alugar um carro mesmo o custo nao sendo barato, ter que ficar dependendo de carona, transporte publico ou taxi não tem condições. Por sorte minha mãe estava vendendo um carro e ficamos com ele ate ela coloca-lo no mercado. Outra complicação é gerenciar o tempo, muita coisa pra fazer, muita gente pra ver, tanta a correria na primeira ida que fiquei cansado das ferias e ainda não vi todo mundo que queria ver. Se não tivesse retornado para a semaninha extra teria falhado com alguns amigos…

Primeira vez na praia

Dessa vez chegou mesmo a bater a temida duvida: será que compensa morar longe da família, amigos e etc?

Felizmente (não pra quem fica) não deu nem tempo da duvida pairar muito tempo no ar. No dia seguinte da primeira ida e que cheguei sozinho, a greve da policia em Fortaleza estourou (já estavam em greve ha alguns dias) e vejo os relatos de amigos e parentes, alem da Claudia ligar temerosa. É como jogar um balde de água fria na cara e você acordar pensando: “ah, é por isso…”. O pior é ver o grau de tolerância criado por situações como essa por grande parte de quem mora no Brasil (não todo mundo, claro), achando tempestade em copo d’água o ocorrido. Minha sogra ficou irritada só porque a Claudia considerou antecipar a passagem para voltar mais cedo se a situação continuasse ou piorasse. Vi outras pessoas comentando que o pessoal tava pintando a situação pior que na verdade era, enquanto tive relatos de violência e terror de outros (visto com os olhos, não de ouvir falar). O fato é que morando no Brasil você tem que criar mesmo uma proteção, senão não se vive, negação é praticamente um mal necessário. Não posso deixar de contar um ótimo exemplo sobre isso ocorrido conosco. Estávamos numa mesa de um restaurante reencontrando alguns amigos da Claudia do tempo de faculdade, quando vem a pergunta básica “vocês gostam de morar no Canadá?”. A resposta positiva dificilmente vem isenta de comparações diversas com a realidade brasileira e quando estamos divagando sobre a violência uma mulher sentada na mesa ao lado com o filho de cerca de 8 anos não se conteve e se intrometeu na conversa exaltada dizendo “também não é assim, aqui não tem toda essa violência não, ta aqui meu filho bonzinho do meu lado, “. Eu que não iria perder meu tempo discutindo isso com quem nem conheço, eu poderia ter perguntando quantas pessoas morreram no fim de semana na cidade ( em media 20 e poucas pessoas) e dito que em Ottawa tivemos 11 homicídios em 2011! Mas eu não estava tentando convencer ninguém de nada, só estava respondendo a pergunta…

Mas voltando a questão da duvida, a maioria de nos chega no Canadá de saco cheio do Brasil, ainda mais depois de uma longa espera no processo. Eu mesmo quando voltei ao Brasil a primeira vez em 2009, que foi não por escolha, fui achando tudo ruim desde o voo da Air Canada em Toronto com a brasileirada. Mas depois de um tempo a poeira vai baixando e você vai percebendo melhor as implicações e desdobramentos de suas escolhas. Principalmente quando se tem um filho recém-nascido em solo estrangeiro.

Aqui aconselho quem não quer ouvir falar sobre o lado mau da imigração parar a leitura por aqui.

Esses dias um advogado que trabalha no mesmo prédio que eu que converso muito estava falando sobre isso. Ele mora no Canadá ha 30 anos, é muito bem sucedido, tem empresa de IT e advoga só por hobby. Ele estava refletindo e dizendo que se pudesse voltar no tempo, não teria saído do pais dele e aconselharia qualquer pessoa a fazer o mesmo. Claro, isso considerando que você não tem um forte motivo de sair de la. Cheguei a conclusão que quanto mais o tempo passa, mais você sente o peso das escolhas, ao contrario do que se pensa que com o tempo passa as coisas só melhoram.  Seus filhos crescendo sem parentes por perto, sem criar uma relação com eles tem um preço. Vê-los uma ou duas vezes ao ano (para quem tem esse privilegio) não é a mesma coisa.

Agora entendo quando vejo pessoas (e não são poucas) voltando depois de 5, 8 anos de Canadá para seus países. Agora entendo porque meus tios que moraram em Oxford por 5 anos e receberam ofertas (meu tio era PhD em física por Oxford) para ir para Alemanha, Itália, Japão, Austrália e mais meia dúzia de países resolveram voltar para o Brasil com os 3 filhos pequenos. Eu vejo isso com outros olhos hoje. De maneira que penso que estou privando Lucas de ter uma família completa e que dessa forma ele dificilmente vai ter o privilegio que eu tive do convívio com uma família grande. Isso sem falar dos nossos próprios pais, para quem ainda tem e gosta. O tempo vai passando e vamos percebendo que perdemos um tempo precioso e tempo não se obtém de volta. E ainda tem os amigos… Nem tudo é perfeito na vida, nossas escolhas sempre trazem vantagens e desvantagens com elas. Nos que escolhemos esse caminho de sair do pais de origem pagamos um preço que só damos conta com o passar do tempo.

Se eu penso em voltar pro Brasil? Estamos felizes aqui e não vejo isso acontecendo a médio prazo, mas nunca digo nunca.

Niagara Falls

Antes de concluir o post sobre nossa ida(s) ao Brasil vou falar rapidinho sobre nossa Pascoa em Niagara Falls. Nossa segunda vez por la, da primeira Lucas ainda estava com 7 meses na barriga da Claudia. Dessa vez nao deu pra entrar nos casinos, mas cansamos de olhar para as cataratas, afinal era essa a vista do nosso quarto:

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A viagem de Ottawa fica um pouco cansativa, sao mais ou menos 6 horas de estrada. Mais ou menos porque paramos duas vezes, nao da pra explicar para um bebe de 8 meses para ter paciencia que estamos viajando. Entao paramos para o almoco na ida e na volta em Belleville e uma segunda vez pra abastecer e trocar fraldas. Niagara e pequena, acho que em 3 dias da para fazer/ver tudo que tem por la, mas vale a pena. Como e uma atracao turistica bem popular, quase chegando ao cliche, tambem pode ser uma cidade cara se voce nao sair da beaten path, principalmente no que se refere a restaurantes.

Alem dos casinos, Maid of the Mist e Table Rock, tem tambem muita coisa para fazer em Clifton Hill, dessa vez fomos apenas no Ripley’s Museum Believe It or Not (Acredite se Quiser) porque o Lucas tava doentinho. Nao fomos tambem em nenhuma das duas churrascarias rodizio brasileiras que tem por la. Uma delas era do outro lado da rua do nosso hotel, mas eu era o unico interessado. O preco eh na faixa de $40 por cabeca para o rodizio. Skylon Tower e bem menor mas tem uma vista mais bonita que a CN Tower, o almoco buffet por la e um excelente custo beneficio.

O parque Marineland e meio deprimente, achei os bichos mal cuidados. E enorme e caminhamos pra caramba. Fomos apenas da primeira vez e so recomendo se voce gostar muito de parques de diversao.

Nao paramos em nenhuma vinicula nem em Niagara on the Lake, o plano era passar na volta, mas a visita ficou para a proxima vez e comprar um Icewine direto da fonte.

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Tardo, mas nao falho

Desde quando estamos ainda na fase de pesquisa e durante todo o processo, acompanhamos os blogs do pessoal que esta no Canada e  uma situacao muito comum com que nos deparamos eh com as pessoas pararem de escrever nos blogs de um dia pro outro, muitas vezes sem sequer um “adeus”, ou outras vezes um “ate logo” que na verdade vira um “ate nunca mais“. Eh inevitavel as pessoas ficarem se perguntando o que aconteceu, se alguma coisa deu errado e as pessoas voltaram ao Brasil ou se tudo deu muito certo e simplesmente nao se tem mais vontade/tempo de escrever. Na maioria dos casos essa ultima opcao eh o que acontece, as pessoas simplesmente param de escrever e ler sobre o Canada e passam a vivencia-lo.

Isso tudo para dizer que nao pretendo parar de escrever no blog. Por mais que demore, mais dia menos dia vou dar noticias por aqui. Mesmo que ninguem mais o leia, o blog pra mim tambem tem uma funcao de registrar o momento para posteridade. Acho legal a ideia de voltar aqui daqui ha 10 anos e relembrar o que passei e/ou como eu pensava. Alem, claro, das finalidades da maioria das pessoas: dar noticias a quem ficou, ajudar quem esta por vir e fazer networking com quem tem afinidades.

Agora algumas fotos da pascoa ainda, em Montreal. Para ampliar eh so clicar na foto:

Rua usada como locacao no Benjamin Button

Frisbee no Parc Lafontaine

Foto roubada do Indo em boa hora

Por do sol no parque

Traduzindo literalmente: a vaca que peida!

Conversa entre amigas

Convivencia harmonica!

Na volta ainda no onibus recebemos um convite pra um churrasco em Ottawa na casa da Tina(o nosso homestay no primeiro mes) e descendo do onibus fomos direto para la:

Claudia, eu, Silvia, Carol

Claudia, Silvia, Carol, Luciano

Aniversario em Montreal

Fim de semana perfeito em Montreal, para quem assiste How I Met Your Mother, foi como o Barney costuma dizer: Legendary!

Tuana, eu, Claudia

Estou postando so hoje porque deu um trabalhinho editar tantas fotos, alem do que o College ta consumindo bastante tempo. Pegamos o onibus da Greyhound, as passagens com preco para estudante sairam por $48 cada, ida e volta. A viagem teoricamente eh de 2:20h, mas em ambos os trechos levou uns 10/15 minutos menos que isso. Talvez ajudou o fato de ser de noite e nao estar nevando forte. Chegamos em Montreal as 22h, fomos recebidos por nossos anfitrioes e em seguida procuramos um lugar para jantar no Quartier Latin, escolhemos uma creperia muito boa na St. Denis. Depois caminhamos(uns 20 minutos) ate o apartamento dos meninos para ir conhecendo a cidade, ja que o clima estava bem agradavel, na casa dos 2 graus positivos e sem vento.

No dia seguinte depois de um cafe reforcado fomos ao Parc Mont Royal onde caminhamos ate o mirante, alimentamos os esquilos, as meninas fizeram boneco de neve enquanto tiravamos foto e o ponto alto foi a patinacao no gelo. Pausa para o almoco as 15h da tarde, restaurante vegetariano muito bom e de sobremesa um bolinho de nome curioso chamado “hempiness bites“.

Claudia, Marcio, Tuana

Quando anoiteceu fomos ate Old Port onde estava acontecendo o festival “La Nuit Blanche”, comemos marshmallow no fogo com chocolate quente e aproveitamos para passear na St. Paul, rua que eh cenario do filme Benjamin Button. Depois disso fomos ate o Amelio’s comer uma pizza acompanhada de vinho tinto.

Marshmallow no fogo

Ainda um pouco cansados da maratona do dia anterior, acordamos um pouco tarde e resolvemos nao tomar cafe e ir direto para o meu almoco de aniversario no L’Academie. A (muita)comida estava perfeita: entrada, prato principal e sobremesa impecaveis. Apesar da vontade de tirar um cochilo de todos, fomos caminhar novamente e aproveitamos pra matar a saudade da Urban Outfitters, que nao tem aqui em Ottawa e era uma das nossa lojas preferidas nos USA.

Biodome

Pegamos o metro para ir ate a Biodome, onde pagamos cerca de $12 por pessoa e pode ser visto simulacoes de varios eco-sistemas, incluindo o de selva tropical amazonica. Legal que eh como ser transportado por um portal, la fora nevando e ao entrar bate o calorzao com humidade e cheiro de mato tipico, tudo igual ao da selva original.

Veridicto: Montreal eh muito legal como era de se esperar, com todas as vantagens e desvantagens de uma grande metropole. Sempre que possivel e os amigos nos receberem iremos visitar.

PS: o album do picasa com todas as fotos esta disponivel aqui.

Coming home

Pra quem imagina que viajar no dia 24 de Dezembro seria moleza, eu respondo: I wish! De Fortaleza para SP ate que foi tranquilo, tive ate poltronas so pra mim. Mas agora estou aqui no aeroporto de Guarulhos esperando o embarque para Toronto e o check-in da Air Canada estava kilometrico(literalmente). O aviao esta indo tao lotado que perguntei para a atendente da Air Canada se eles estavam operando um unico voo hoje a noite, eu sinceramente nao tinha nocao que cabia tanta gente num aviao. Pelo que percebi metade dos passageiros sao orientais indo pra Toronto(tao cliche! hehe), isso explica o total descaso pelo Natal. Muitas criancas correndo pelo saguao, acho que esse voo promete…

Enquanto isso na trilha sonora Joe Pisapia vai cantando:

“I’m coming home soon
And when I do I will see you
That is if you’ll see me too
I’m coming home soon

Or has it been so long
That you forgot about me?
I’ve been gone so long it’s true
But I’m coming home soon

I’m hoping that you feel the same
‘Cause every time I think your name
I feel the blush of wonder bloom
And I’m coming home soon”

Coincidencia ou nao, assim um ciclo se completa. E pela primeira vez eu realmente sinto um ano novo comecando de verdade.

Welcome to (the jungle)Brazil

Voltar ao Brasil sempre eh uma experiencia no minimo curiosa. Voce ja se sente com um pezinho no Brasil na sala de embarque. Muito barulho e pessoas abrindo sua vida com direito a detalhes para estranhos que acabaram de conhecer.

– Olha aqui minha mao, ta vendo esse machucado? Nao sei porque isso apareceu, deve ser a idade ou stress.  Ano passado passei 3 meses no Brasil, para fazer uma cirurgia no ombro, ainda nao estou 100%.
– Nossa! Eu tenho um problema no ombro tambem, o medico falou que se eu tiver filho um dia nao vou poder carrega-lo no braco, vai chegar uma hora que nao vou suportar a dor. Ja pensou que coisa?!
Ou coisas do tipo:
(Ao passar algo sobre o filme do Michael Jackson na TV)
– Que pena que ele morreu!
– Ah, eh…mas eu nao gostava muito dele.
– Ah, eu tambem nao, mas depois que ele morreu fiquei com pena dele.
So me restou por os fones de ouvido e tentar ir pro meu “happy place”, pena que nao tinha “A necrofilia da arte” no playlist do iPod para acompanhar o momento.

Mas sabe quando realmente cai a ficha que voce esta prestes a chegar no Brasil? Quando chamam para o embarque executivo e prioritario e todo mundo corre para a fila como se tivessem tentando embarcar na Arca de Noe. Acho que o funcionario da Air Canada repetiu no minimo umas 5 vezes ate perder a paciencia e pedir para uma funcionaria anunciar em portugues(lusitano). Ok, tudo bem, talvez nem todo mundo falasse ingles e nao estivessem entendendo. Mas depois do anuncio em portugues ainda tinha gente tentando embarcar sem ter status de prioritario ou primeira classe e o funcionario, mais nervoso que antes, teve que vir andando pela fila agitando os bracos para cima e para baixo dizendo que naquela fila so podiam estar aqueles passageiros mencionados. Os teimosos ao sairem da fila de fininho ainda soltaram uns cochichos baixos de “eu te disse” e “carinha estressado”.

No aviao, perolas do quilate “o mundo eh dos ixxxperrtuxxx” sao ouvidas, enquanto um casal por volta dos seus 45 anos, conversam entre si. “Cruza uxx deduxx”, o outro responde. Tanta torcida era porque eles vieram la da frente e estavam com esperanca de pegar uma fila de 3 cadeiras para cada um deles. Pro azar deles os donos dos assentos chegaram e ficaram em pe olhando pro bilhete e para o numero das cadeiras com cara de que nao estavam entendendo nada(eram gringos, obviamente). O comissario veio em assistencia e vendo que o gringo estava com o bilhete certo pediu para ver o bilhete do “esperto”. Esse nao deu a minima satisfacao, so se levantou e foi pra sua cadeira, logo sendo seguido pela esposa(?), cujo os donos dos assentos tambem ja estavam chegando e saiu de fininho ainda largando um “eh, nao deu”.

Uma coisa que fica bem clara eh o respeito, ou a falta dele. Aqui as pessoas espirram em cima de voce e a ultima coisa que passa pela cabeca eh cobrir a boca ou nem ao menos pedir desculpa. As palavras “ultima chamada” entao perderam totalmente o significado para mim. Nas aproximadamente 5 horas que fiquei em Guarulhos, 90% dos voos fizeram “ultima chamada” pelo menos 5 vezes. Fiquei pensando se alguem mais alem de mim achava aquilo uma piada. E muitas vezes depois das 6 ou 7 ultimas chamadas o funcionario do portao de embarque ainda chamava o nome de um por um dos passageiros que estavam faltando pelo menos mais umas 3 vezes. Depois nao sabem porque os voos no Brasil atrasam tanto.

No desembarque em SP, a sintese do Brasil: um “caos organizado”. No balcao de conexoes da TAM, nenhum funcionario. Ninguem da infraero ou que pudesse dar alguma informacao no raio de 50 metros. Ao subir para check-in normal eu e mais 2 ou 3 passeiros na mesma situacao fomos informados que aquele balcao de conexao so abre depois das 14hs. Ok, entao ta… Disseram, obviamente, para pegar a fila do check-in normal.  Ate que a fila nao estava tao grande, mas foram colocando todos os passageiros dos voos para Recife, Foz do iguacu, Brasilia e mais umas 2 outras cidades que nao lembro agora, na minha frente e dos demais. Ainda bem que eu tinha muito tempo entre um voo e outro, porque quem chega com uma janela de tempo de 1:30h/2h achando que eh suficiente pode ser dar mal. Nao foram uma nem duas as reclamacoes que vi de pessoas que ja estavam perdendo ou ja haviam perdido a conexao. A TAM esta no processo de aceitacao da Star Alliance, se ela conseguir entrar a Star Alliance perde um pouco de credibilidade para mim.

Mas a cereja do bolo ainda estava por vir. Esperando no portao que estava designado no bilhete, veio um anuncio no microfone dizendo que o portao agora tinha sido mudado. Descendo nas escadas rolantes para o novo local, achei estar chegando numa rodoviaria de interior. Sujo, poucas cadeiras para muita gente. Esperei em pe por uns 50 minutos e ao ser anunciado o embarque prioritario, nao preciso dizer que todo mundo correu para fila. Nao houve repreensao em momento algum por parte dos funcionarios. E, pasmen, meu temor se confirmava. Por tras das vidracas havia um constante movimento de onibus chegando e saindo. A sensacao de rodoviaria de interior ficou para tras e deu lugar a algo ainda pior, a lembranca de terminal de onibus em Fortaleza no horario do rush quando os passageiros foram amontoados no onibus ate nao caber mais gente em pe. Nao durou mais que 3 ou 4 minutos, mas o suficiente para os menos afortunados que “viajavam” em pe caissem uns por cima dos outros nas curvas. Chegando na aeronave, outra recordacao do passado. Aeroporto Pinto Martins na decada de 80, la pelos idos dos meus 9/10 anos. Naquela epoca as pessoas desciam da aeronave e caminhavam ate o desembarque. Mas agora eu sei que isso eh normal em Guaraulhos, algumas pessoas disseram que eh assim que funciona quando o aeroporto esta muito movimentado. Eu sei que queria um desconto na minha passagem, paguei pra viajar de aviao e nao pegar coletivo lotado. Ridiculo.

Sim, nao estou feliz de estar voltando ao Brasil. Claro que as circunstancias nao ajudam, nao estou aqui a passeio. Mas tambem nao chega a ser como minha propria mae setenciou algumas vezes no passado, “nada aqui presta para voce”. Absolutamente, aqui sempre vai ter familia e amigos pelos quais estarei feliz por voltar. Alem de tudo, eu nunca vou deixar de ser brasileiro e isso nao eh uma mera questao de escolha. Eu nasci e vou morrer brasileiro.  O que eu  posso, e vou fazer, eh tentar preservar somente o lado bom da nossa cultura.

Mais um pouco sobre o Landing

Ainda sobre o Landing na versao da Claudia:

“Chegamos em Toronto ainda escuro, 5:30h da manha. Ficamos perplexos com o tratamento que recebemos em Toronto, de todas as autoridades com que tivemos que lidar. Todos, sem excecao, foram muito mal-educados, beirando a grosseria. O sujeito da imigracao duvidou descaradamente de tudo que dissemos e so faltou me engolir por que eu tinha colocado apenas as iniciais numa linha de um formulario onde eu deveria ter assinado (tinha outra linha que pedia apenas as iniciais). Sinceramente, teve um momento que eu pensei que ele iria nos mandar de volta. Foi horrivel.

A funcionaria seguinte, a quem entregamos a declaracao de bens, pediu que pagassemos a taxa de entrada da Mei (que era de CAD$30, nao podia ser cheque, nem cartao, nem dolar americano, tinha que ser o canadense) e ficou enfurecida porque o Carlos nao tinha dinheiro trocado. Quando ele pediu desculpas ela tacou um “whatever” na cara dele, acredita? Agora pronto. Somos imigrantes, a moeda deles eh dificil de encontrar e a gente tem a obrigacao de ter o dinheiro trocado?Enfim, tive uma pessima primeira impressao, a ponto de querer dar meia volta. Pensei que os canadenses eram todos uns grossos e que os imigrantes nao eram bem vindos aqui.

Mas gracas a Deus eu estava errada, e quando chegamos em Ottawa tudo foi diferente. Fomos muito bem recebidos e bem tratados por todos, comecando do taxista que nos trouxe ate o homestay. “

Capitulo 2: Landing

Chegando na imigracao a fila ate que nao estava grande. Logo a nossa frente na fila um senhor com estatura de no maximo 1,50m e aparencia de duende falou conosco em uma lingua estranha(que acho que era hebraico pois vi que seu passaporte era israelense), respondi que so falava ingles e ele insistiu com a Claudia. A fila foi andando e chegando nossa vez, ja comecei a notar que os agentes estavam de mau humor, quem sabe talvez por ser tao cedo. Em um dos guiches vi o cara pedindo a carta da escola de uma brasileira que estava entrando com visto de estudante, a menina que nao aparentava ter mais que 20 anos nao entendeu nada e o cara comecou a ficar impaciente e de mais mau humor ainda. Pegou uma carta do agente vizinho, que estava no momento com outro estudante tambem, e falou bem grosso “isto aqui, eu quero ver cada o seu papel igual a esse”. A menina finalmente entendeu e so deu com os ombros, a fila foi andando e nao vi o desfecho da coisa toda, mas acho que ela conseguiu entrar. Fiquei entao torcendo para nao pegar esse agente que ja estava visivelmente aborrecido, mas nao eh que de uns 10 guiches fomos cair justamente no dele! O sotaque dele tambem nao ajudava, dava pra ver que era de algum lugar da India ou Paquistao, parecendo uma ironia estar trabalhando como agente de imigracao. Nao pediu para ver o dinheiro ou prova de fundos, apenas perguntou quanto traziamos e anotou. Como era de se esperar, pois ja estava irritado, foi bem seco e grosso e no final disse um “Welcome to Canada” quase inaldivel, sendo percebido somente por mim.

Saindo da imigracao, fomos pegar as malas, como ja foi dito por muitos, sem cartao de credito internacional ou moedas, nao tem como pegar os carrinhos no Aeroporto de Toronto. Detalhe que o Visa Travel Money nao funcionou para isso, entao tive que apelar pro cartao mesmo, $2 por carrinho, sendo que ao devolve-los a maquina retorna 25 cents. A unica outra opcao que vi sao uns carregadores que cobram, se nao estou enganado, $15 dolares nao sei se por um volume ou dois pois nao peguntei. Depois disso passamos novamente pela Customs, dessa vez a mulher conferiu o formulario que o primeiro funcionario preencheu de acordo com nossas respostas, fez mais algumas perguntas e depois pediu para ver a documentacao da Mei. Falou que nao poderiamos entrar no Canada com a racao trazida do Brazil e a jogou no lixo, depois disso emitiu um papel e me enviou ao caixa para pagar a taxa de entrada do animal. No caixa mais mau humor, quando entreguei uma nota de $100 para pagar os 30 e poucos dolares, ela perguntou se nao tinha dinheiro mais trocado e pedi desculpa respondendo que nao, ela fechou a cara e mandou um “whatever”.

No aeroporto ja pegamos uma pessima ma impressao de Toronto com essas “boas vindas”. La fomos nos pra fazer o check-in da conexao, quando a primeira pessoa simpatica em solo canadense nos atendeu, a funcionaria da Air Canada nao so disse que poderiamos levar a Mei na cabine novamente como tambem nos colocou no primeiro voo para Ottawa, que estava saindo em meia-hora. Havia marcado a conexao para 10h em caso de algum atraso, mas acabou que as boas intencoes da mulher nos levaram a outra correria. Corremos para o portao de embarque onde a fila da checagem de seguranca estava kilometrica, o tempo passava e achava cada vez mais dificil conseguir pegar o voo. Quando no raio-x pediram para esvaziar tudo da mochila da Claudia eu tive certeza que a vaca tinha ido pro Brejo, faltavam menos de 15 minutos pro aviao partir e nos la com o carinha checando objeto por objeto com a maior calma do mundo e eu tentando pensar num mantra zen e ja pensando em chegar la no embarque e nos colocarem no nosso voo mesmo. Quando o cara deu sinal verde para irmos embora, depois de nao encontrar nada suspeito obviamente, passamos pelo Carlos, Lidy e Levi que estavam tomando cafe da manha e nao deu tempo nem de despedir, acho que disse algo como “vamos pegar outro voo, estamos atrasados, tchau…”.

Corremos e conseguimos chegar a tempo, mas para quem acha que seria facil, a caixa de transporte da Mei nao cabia embaixo da cadeira. O aviao estava lotado, minha cadeira era de uma lado e a Claudia ficou do outro. Os passageiros eram em sua maioria executivos fazendo ponte aerea Toronto-Ottawa e eu la tenta o acomodar o transporte no chao. Chamei o comissario de bordo e ele fui com ele ate a porta do aviao, ele chamou alguem no rado encarregado das bagagens e tiveram que embarcar a Mei no porao mesmo. Pelo menos ele foi muito educado e prestativo, no final deu tudo certo. Os 45 minutos ate que passaram rapido e quase duas horas antes do previsto, estavamos pousando em Ottawa…

Capitulo 1: A viagem

15/09/2009. Muito stress. Essa eh a melhor definicao.

Fazer uma viagem intercontinental com 7 malas, duas mochilas e um gato nao eh facil. Ja posso dizer que sou um expert na arte de andar com 2 carrinhos de bagagem ao mesmo tempo, um em cada mao. Pena que ainda nao tem essa modalidade nas olimpiadas, pq eu traria alguma medalha pra casa.

Tudo comecou ainda antes do check-in. Tivemos que trocar o tapete absorvente cheio de xixi, a Mei tem pavor de transporte desde a viagem  USA/Brasil, pra ela estar num transporte ela sabia que a coisa nao era boa. Pra completar tinhamos que dar um remedio calmante recomendado pela veterinaria. Nao foi muito facil, acho que metade do remedio caiu no chao mas foi o suficiente, logo ela ficou calminha “curtindo a lombra”.

No check-in da TAM foi preciso bastante choro para nao pagar o excesso dos nossos terceiros volumes no trecho Fortaleza-SP ja que a rigor teriamos que pagar mesmo, afinal, eh uma cortesia oferecida pela Air Canada, nao constando no bilhete. Ja a Mei nao pode ir na cabine pois o transporte era muito grande. Mas olha que ainda era pouco menor que o recomendado para o tamanho dela. Nos sites das companhias aereas tem varias recomendacoes sobre os tamanhos do transporte, bebedouro e etc. A rigor nao tem ninguem preocupado com isso, a unica coisa que checam eh tamanho do transporte(para saber se da pra ir na cabine ou nao) e atestado de vacina, nada mais. Tiramos ate o bebedouro da portinha do transporte por recomendacao no propria check-in, pois disseram que ele poderia cair durante a estadia no compartimento de carga.

Bagagens e Mei despachadas(coracao na mao), o check-in tomou tanto tempo que as despedidas tiveram que ser rapidas. Melhor assim.

Em SP tivemos que pegar as bagagens e a Mei para fazer a conexao. Nossos companheiros de viagem foram para um semi-hotel que fica dentro do aeroporto mesmo com o filho Levi, que estava febril. Ate pensei nessa possibilidade no planejamento da viagem, mas que foi descartada pq eles nao aceitam animais de qualquer tipo. Fomos entao procurar um banquinho simpatico localizado proximo a area de check-in da Air Canada, ja que ali seria nossa residencia pelas proximas 5 horas. Lugar estrategicamente escolhido perto de uma tomada e uma mesinha para colocar a caixa de transporte da Mei. Acampamento feito, fui procurar cartao pre-pago de acesso wireless pra internet. A tarefa teoricamente facil me levou ao outro extremo do aeroporto de Guarulhos, enquanto Claudia e Mei esperavam nos bancos. Depois de percorrer aproximadamente 5 estabelecimentos comerciais, incluindo a propria Telefonica,pois todos estavam sem o cartao. Acabei comprando um cartao da Vex numa farmacia de acesso para 24hs por R$25(outra opcao era 2hs por R$15) que funcionou perfeitamente.

Tanto empenho nao era somente para ajudar a passar o tempo, mas ate o momento nao tinhamos lugar definido para ficar quando chegassemos em Ottawa. Na vespera da viagem recebi um email dizendo que por um imprevisto nosso lugar nao estava disponivel ainda. Nada de panico, um problema de cada vez. Email vai, email vem, em Guarulhos, horas antes de chegar no Canada fiquei sabendo que estava tudo resolvido.

Proximo passo, check-in da Air Canada. O guiche so abre 17hs, mas 16:30h ja tinha fila. Novo problema, a atendente da TAM, que tinha sido muito simpatica, por engano ficou com a original e nos devolveu a copia do CZI(certificado de vacina internacional) da Mei. Fomos orientados a ir no Departamento de Agricultura tirar um novo documento. Para dar tempo, Claudia foi fazer isto e eu pagar a passagem da Mei no escritorio da Air Canada, que fica num corredor escondido por tras dos guiches. Departamento de agricultura do nosso lado do aeroporto ja estava fechado, mandaram a Claudia pro outro que ficava no lado oposto do aeroporto. Nova correria, chegando la o cidadao disse que nao poderia emitir outro CZI pq o atestado do veterinario estava vencido, segundo ele teria validade de 3 dias, o que sabiamos eh que eram 10 dias, estando escrito no atestado. Largou uns carimbos e disse que era o melhor que podia fazer, teriamos que tirar um novo atestado em algum veterinario em Guarulhos para um novo CZI, ou seja, voo so no dia seguinte. Voltando no guiche da Air Canada, depois de muita conversa e psicologia consegui convencer o atendente a embarcar a Mei, mesmo sabendo que corria o risco de algo dar errado na entrada no Canada, segundo as palavras dele(e que era verdade). Pelo menos conseguimos embarcar a Mei na cabine conosco, pra o maior trecho da viagem.

No aviao o “aeromoco” foi logo dizendo assim que pus o pe dentro do aviao que que o gato nao poderia ir na nossa fileira(a primeira). Achei que era brincadeira e so respondi que podia sim, que ja estava tudo ok(cansado depois de tanto stress), ele retrucou dizendo que nao estava ok e continuei achando que era brincadeira, pois ele sorria o tempo todo(cinismo).  Outra pessoa veio falar conosco, esse explicou que nada podia ir no chao do aviao e como nossa fileira era a primeira depois da primeira classe, teriamos que mudar de fileira. Fala com um daqui, fala com outro ali, as pessoas nao entendiam o que eles falavam pois nesse ponto toda crew do aviao era canadense e os passageiros brasileiros, acabou que a Lidy e o Levi estavam logo atras de nos e nos quebraram o galho levando a Mei nos pes.

Depois de servirem o jantar ainda assisti o ultimo Exterminador do Futuro antes da porcaria da minha telinha travar e nao passar mais nada. Nao consegui dormir mais que meia-hora, pensando no landing, documentos da Mei, chegada em Ottawa e tudo mais. Depois de preencher o formulario do customs ainda teve um cafe da manha, com direito ao primeiro copo de cafe com leite aguado ao estilo norte-americano.

Chegamos em Toronto ainda escuro, 5:30h da manha. Primeiro passo depois dos interminaveis corredores foi o primeiro posto do Customs. Todos, sem excecao de nacionalidade e incluindo canadenses, entraram na fila. No guiche, o carinha com o maior mau-humor do mundo, com cara de quem tinha acabado de acordar, fez perguntinhas basicas, so confirmando o que escrevemos no formulario e nos mandou pra fila seguinte: a imigracao.

To be continued…